Por que Cid Gomes avançou com retroescavadeira contra policiais?

Publicado 00:00 | 21 de Fev de 2020 Tipo Opinião

Cid Gomes foi com retroescavadeira enfrentar policiais (Foto: Whatsapp/O POVO) — Foto: Whatsapp/O POVO Cid Gomes foi com retroescavadeira enfrentar policiais

É ótima notícia a evolução do quadro de Cid Gomes (PDT). Que o senador se recupere bem. O que houve na quarta-feira, 19, foi triste e inaceitável.

Até me constrange discutir os atos que antecederam alguém levar um tiro e que o levou a estar hospitalizado até o momento em que escrevo. Parece-me bastante óbvio, entretanto, que o ato do senador subir numa retroescavadeira e avançar sobre multidão de manifestantes não foi a coisa mais sensata do mundo. Não tinha como acabar bem. Pessoas iam sair feridas. Não é jeito de lidar com aquela situação.

Por que Cid fez aquilo?

Ele não sabia o risco que corria? Claro que sabia. "Eu tô aqui desarmado, e vou enfrentar quem armado estiver, sob o custo da minha vida. Mas ninguém vai fazer o que esses bandidos estão fazendo aqui em Sobral", disse o senador, em discurso gravado pouco antes do terrível incidente. Ele sabia do perigo, sabia que podia morrer.

Por que, então, Cid fez isso?

Há elementos concretos. Circularam nas redes sociais vídeos de viaturas policiais percorrendo o comércio de Sobral e ordenando que as lojas fechassem. Olha, em outras paralisações de policiais no Ceará, não lembro de imagens de nada parecido. É o tipo de prática que só lembro de ver protagonizada no Ceará por facções criminosas.

Pois bem, Cid ficou indignado com aquilo. Antes de avançar sobre o Batalhão, deu prazo para manifestantes saírem. Levou um soco. Estava obviamente enervado.

O gesto tem certa coerência com o estilo de Cid e de Ciro Gomes tentar resolver as coisas com voluntarismo. Imediatamente vem a memória quando o senador foi a acampamento no Cocó tentar convencer manifestantes a saírem para Roberto Cláudio (PDT) construir os viadutos. Ou quando mergulhou na adutora para ver o porquê de um vazamento. Lembra também os muitos momentos em que Ciro Gomes foi peitar manifestantes. É tudo bem dentro do script da família. Todavia, o que houve em 19 de fevereiro foi incomparavelmente mais extremo. Um risco enorme para ele e para os demais envolvidos.

Não apenas é além de qualquer coisa que ele tenha feito antes. Acima de tudo, é algo que destoa muito da postura do próprio Cid na paralisação de policiais em 2012, quando ele era governador. Não houve naquele momento nada daquela postura de enfrentamento, pelo contrário. O Governo ficou recluso, apostando em conversas de bastidores. Não havia manifestação pública, não havia aparições. Especulou-se até que o governador estava no Exterior durante a crise. O Cid da quinta-feira não foi o mesmo que governou o Estado. Qual a diferença?

A primeira: Sobral. Eles foram afrontados em sua terra e aquilo claramente mexeu com Cid. Antes de chegar, ele convocou a população para recebê-lo no aeroporto do Município. De lá subiu na retroescavadeira e segui-se o que se sabe.

A segunda é uma impressão de quem acompanhou os dois episódios. Pareceu-me que, ao agir daquela forma, Cid não quis manter postura como a que teve quando governador. Tentou agir de forma oposta. Ele mesmo disse que aqueles dias foram os piores dos oito anos de governo. O trauma parece vivo. Talvez tenha tentado purgar algo. Cid nunca fez autocrítica. Sempre disse que fez o que podia. Mas, ficava frustrado. Havia decepção quanto ao que ocorreu.

Acompanhe a cobertura do protesto dos policiais

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