
Não é preciso muito tempo de conversa para entender quem é Carlito Lira. Por outro lado, a cada resposta, risada e questionamento feito pelo próprio a todos que estão ao seu redor, invertendo o real intuito deste encontro, mais intrigante e curioso se tornava o bate-papo.
Isso porque o fundador da Construtop, nascido em Boa Viagem, a 199 quilômetros de Fortaleza, é, naturalmente, um homem de negócios. Não no sentido hollywoodiano, apesar de também usar um elegante terno azul, mas do melhor jeito nordestino de ser, fazendo uma limonada a cada limão — no seu caso, uma obra a cada tijolo.
Na parede de casa, ele conta que não há diploma universitário. Mesmo tendo iniciado diferentes cursos de graduação, não concluiu nenhum, pois a prática e demandas do dia a dia e de seus diferentes negócios o impedia de se dedicar mais aos estudos teóricos.
Por outro lado, era na rotineira leitura de revistas como Veja, Exame e Casa & Construção que se atualizava sobre assuntos como economia e política, permitindo que participasse de rodas de investidores e empresários com contas bancárias muito mais recheadas sem “fazer feio”, como descreveu.
Averso do ditado “em time que está ganhando, não se mexe”, o filho homem caçula de seis irmãos e três irmãs carrega consigo o discurso de que sempre é possível evoluir. Tanto que, ao observar o cenário socioeconômico do Brasil no início dos anos 2000, notou a grande mudança que estava por vir no setor de construção civil.
E em agosto de 2002, chamou quatro pessoas até então desconhecidas para o que muitos consideram sinônimo de um casamento: uma sociedade, fundando a primeira central de negócios para lojas de material de construção do Ceará, que em 2010 passou a batizar todas as lojas com o mesmo nome: Construtop.
Mais de vinte anos depois, com 15 lojas, afirma que o mercado é enorme, mas que ainda existe possibilidade de crescimento, dele e de quem aceitar ser um parceiro de sua marca. Conheça agora a história de Carlito Lira, diretor da Construtop, fundador e presidente da Associação dos Comerciantes de Material de Construção, empresário e um comunicador nato.

OP - Pode nos contar sobre a sua infância, o início da sua história?
Carlito - Eu nasci em 24 de dezembro de 1964. Fui registrado dia 29, porque no interior do Estado tinha essa dificuldade, dificilmente você era registrado no mesmo dia. Foi no município de Boa Viagem, no Ceará.
No mês seguinte, a gente fez aquele tradicional êxodo das famílias nordestinas, de sair do interior para a capital. E a gente veio para Fortaleza em janeiro de 1965. Fomos morar no bairro do Amadeu Furtado, ali extrema com a Parquelândia, próximo ali à rua Humberto Monte, e por lá moramos, aproximadamente, por uns três 3 a 4 anos.
A gente morava em casa alugada e, finalmente, a gente teve a oportunidade de ter a casa própria. Papai, seu Valquírio Lira, trabalhava na L Mota e Companhia, uma das principais empresas de material de construção daquele momento. E o Tarcísio Mota nos presenteou, nos brindou com a primeira casa lá no Henrique Jorge.
Foi um bairro que a gente cresceu, que a nossa família evoluiu, e paulatinamente a gente foi se movimentando, trabalhando. Depois eu casei. Casei novo, com 23 anos de idade. Sou casado até hoje com a mesma mulher, Marilene Lira.
OP - O senhor falou que seu pai começou em uma loja, depois virou sócio. Como foi a sua infância vendo seu pai sendo comerciante? Isso influenciou na sua escolha profissional?
Carlito - O papai trabalhava com o Tarcísio Mota administrando uma indústria de pré-moldados que ele tinha, a indústria de mosaicos, que anteriormente em Fortaleza o piso das residências, das praças públicas eram todos de mosaico.
Depois adentrou a produção da cerâmica e o Tarcísio Mota investiu na primeira indústria de cerâmica aqui do Ceará, a Cerbras, que antes tinha o nome Topázio, depois foi Porto Velho e cresce até hoje.
Na oportunidade dessa transição, o papai acabou ficando, como uma forma de indenização, com o maquinário para continuar produzindo o mosaico. O ladrilho hidráulico, o mosaico, passou a ser utilizado menos nas residências, mas em áreas públicas, áreas externas, áreas de alto tráfego, o mosaico continuou sendo vendido durante muitos anos.
É tanto que algumas dessas principais obras que nós temos aqui em Fortaleza, tipo Praça do Ferreira, Beira-mar, Praia do Futuro, alguns mercados no Nordeste, o São João de Caruaru, a gente forneceu todos esses produtos para utilização nesses logradouros públicos.
OP - Qual era o nome da empresa do seu pai?
Carlito - Era Liramac.
OP - Como foi o seu começo no mercado de trabalho?
Carlito - Quando eu comecei, estava com 22, 23 anos. Estava na faculdade e o meu pai já tinha loja de material de construção. Loja também de bairro. E eu comecei a trabalhar com ele como funcionário. Ele era sócio do meu irmão e da minha cunhada. Só que a minha cunhada quem tocava o negócio societariamente.
Eu trabalhei uns anos mais ou menos. Era um negócio pequeno e como já estava na faculdade, acabei arranjando uma colocação no Banco Mercantil de São Paulo, o Finasa. E fiquei entre a opção de ir pro Finasa ou continuar com meu pai.
E eu falei para ele que o interessante para mim era ficar, mas desde que eu fosse sócio. Era aqui em Fortaleza, ali na Parangaba, lá na Osório de Paiva. Meu pai já estava com 60 anos, 62 anos. Ele achou meio arriscado, eu entraria com a força de trabalho e ele com o capital que ele já tinha, mesmo sendo modesto, mas ele acabou topando.
A gente montou a sociedade, entrei com 50%. Paulatinamente, eu fui adquirindo as ações do papai, tanto que ele se aposentou aos 65 anos e ele parou de trabalhar acho que com 67. Quando eu fiz a proposta de sociedade, era porque eu não me dava muito bem com a minha cunhada, quem tocava o negócio praticamente. Eu achava que tinha muita cobrança.
E via um potencial empreendedor. Então, acabamos fazendo assim. A gente alugou um ponto, porque na divisão da sociedade, a minha cunhada não aceitou direito, então ela ficou com o nome da empresa, o CNPJ, o telefone 225, que na época era uma relíquia, era um grande ativo, e ficou com um ponto comercial.
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E a gente teve que partir para um local alugado, financiamos um caminhão, começamos a trabalhar e paulatinamente a empresa foi crescendo. Papai saiu do mercado, ficamos como sócios por aproximadamente uns 4 anos.
Depois o papai se aposentou, eles teve problemas ocasionados pelo Parkinson. Ele viveu muito tempo ainda, mas já com a vida mais difícil. Trabalhei por um tempo com a loja sozinho e depois o negócio foi se expandindo.
OP - O seu pai chegou a ver a Construtop?
Carlito - Não, não chegou. Como ele teve a doença, não tinha noção das coisas.
OP - E seu pai era comunicativo como o senhor?
Carlito - Não, eu acho que entre o papai e a mamãe, Isaura Lira, quem tinha mais essa tendência comercial era mamãe. O papai era mais aquela pessoa muito séria, muito responsável.
Eu sempre tive uma questão de gostar de viajar para outros mercados, sentir mercado. E sempre gostei muito de ler. Entrei na faculdade, mas nunca terminei as faculdades.
Entrei em administração, história, marketing, mas como eu tenho outras agendas, eu acabo não concluindo. Se eu somasse os meus semestres estudando, já tinha terminado (risos).
Mas em compensação também eu sou um cara muito de ler, de aprender. E sempre fui muito vocacionado para negócios. Eu era assinante da Veja e tinha muitas informações nacionais. E assinava a Exame, que me trazia informações de mercado.
Isso sempre abriu portas para mim, por onde eu andava. Às vezes estava num grupo de empresários, de grandes empresários, muito maiores do que eu, mas eu acabava me saindo bem nos encontros devido ao meu conhecimento.
Puxavam um assunto sobre isso, eu podia não ser especialista, e como eu sempre também fui um cara de me comunicar, sempre fui facilitador, ministrei palestras, então essa questão da comunicação me ajudou bastante.
Quando você vai participar de algum grupo empresarial, ninguém quer saber o seu contracheque, o tamanho da sua empresa naquele momento. Aquele momento é de relacionamento, socialização. Então você acaba abrindo portas.
E também sempre fui de marketing, troca de cartões, informações, criando um network.
OP - E isso sempre foi algo seu, é um perfil seu?
Carlito - Sempre foi. Tanto que, por exemplo, quando eu organizo a Construir, com todo o ecossistema da construção, envolvo também todo o País. É um evento que as indústrias de todo o Brasil vêm para expor no Ceará com objetivo da fatia de mercado do Nordeste.
Aí a gente envolve também comerciantes de todo o Norte e Nordeste para virem comprar aqui na feira. E a construção civil também juntos.
E o EcoNordeste é o encontro da construção. Ele roda as capitais do Nordeste. A gente faz em Recife, Natal, Fortaleza e a gente reúne em um resort cinco estrelas o PIB do comércio e da indústria de material de construção do Brasil. São grandes nomes e empresas, por quatro dias no resort. É muito network, entretenimento, troca de experiências e negócios.
OP - Como foi essa saída do seu pai?
Carlito - Eu assumi a responsabilidade de mantê-lo com, na época, 10 salários mínimos, durante toda a sua vida e até também a da mamãe. E foi um bom investimento para ambas as partes. Eu paguei parceladamente.
Papai faleceu com 86 anos e paguei ao longo de, aproximadamente, 20 anos, fazendo esse reembolso para que ele vivesse mais e melhor. Não era aí a questão do valor, a questão mesmo de você ter o seu pai, a sua mãe próximos de você.
A gente foi evoluindo, a minha irmã Márcia entrou como minha sócia na empresa, na oportunidade que o papai se desligou, eu fiquei com 80%, ela com 20%. A gente trabalhou durante muito tempo, foi uma sociedade muito interessante. Depois ela saiu do ramo de material de construção e eu continuei.
OP - Como surgiu a ideia de criar a Construtop?
Carlito - Ainda durante a sociedade com a Márcia, eu tive a ideia de montar a Construtop. E surgiu a partir de uma movimentação de mercado. O mercado estava meio estagnado, mas tinha possibilidade de crescimento.
Era 2002, aproximadamente, terminava o governo do Fernando Henrique Cardoso, que tinha passado por processo de reestruturação do País, privatizado, estabilizado economicamente a Moeda, o Plano Real.
E o Lula assumiu em 2002, pegou realmente uma máquina já estruturada, mas ao mesmo tempo ele teve o seu grande mérito de colocar essa visão social dele, de investir principalmente no setor da construção. E aí o nosso setor também evoluiu bastante.
Nesse período, de 2002 até 2010, foi um dos períodos que o comércio material de construção mais cresceu e o setor da construção mais cresceu no Brasil. A gente foi evoluindo, montou a Construtop com alguns parceiros que a gente não conhecia, mas o mercado conhecia e me passou informações.
Quando a gente resolveu montar a Construtop foi uma ideia minha. Eu tinha duas lojas, eram lojas de bairro, e eu queria alavancar o faturamento, estrutura, força de marca e tudo mais. E eu não estava com capital para investir. Então, a alternativa foi fazer parcerias.
Na época, as empresas trabalhavam muito independentes. E havia um certo apartaide, ninguém conversava, ninguém compartilhava. Então, em algumas viagens que eu fiz a outras praças, São Paulo, outras regiões, eu fui picado pela questão do compartilhamento, do associativismo, cooperação.
Eu fiz o mapeamento da cidade e detectei esses empresários que hoje são meus sócios. Eles já operavam em determinadas regiões, um na Água Fria, outro no Conjunto Ceará, mas em lojas de bairro.
OP - São cinco sócios na Construtop. Como é feita a divisão de tarefas na empresa?
Carlito - Somos sócios iguais, cada um tem 20%. A gente trabalha mais estrategicamente. A Estrutura o planejamento, a curto prazo e do ano, participa das negociações de compras, dos pacotes para o ano. Isso nos assegura, por exemplo, a gente ter uma melhor negociação.
Porque uma coisa é negociar um pedido, outra coisa é negociar o faturamento de um ano. A gente faz uma projeção de compra durante o ano. Isso garante divulgar o produto do nosso parceiro nas nossas mídias, ter o produto em todas as lojas e uma liquidez de 100%.
Não é mais do que obrigação, mas no mercado, que às vezes oscila, temos uma característica de nunca atrasar um título. E é assim desde o nosso nascimento.
OP - Seus sócios também atuavam na área de material de construção?
Carlito - Sim. E a gente convidou eles, mostrei o projeto como era, e convenci todos em uma única reunião. Até porque era um negócio interessante: unir forças. E é claro, essas pessoas que eu estava convidando, eu já tinha feito um levantamento para saber como era a liquidez, como era a questão de pensamento, perspectiva etc.
OP - Mas eram pessoas que o senhor tinha contato, já conhecia?
Carlito - Não, eu não tinha contato com nenhum deles. Eu fui através da cadeia fornecedora. Eles sabem quem fatura, quem tem uma projeção de crescimento interessante, quem não está num porte grande, mas tem perspectiva de crescimento, quem pega essa região…
E eu convidei eles para sermos sócios nessa empreitada. Aí a Construtop começou a capilarizar, abrir mais lojas. Hoje nós somos ainda o maior número de lojas do estado do Ceará. E a gente fez com que o empresário começasse a conversar entre si.
É claro que nós temos outros negócios. Tem sócio meu na área de construção civil, na área de loteamentos, tem sócio meu que tem segmento de autopeças. Eu atuo no mercado imobiliário, promovo eventos do setor, como a Expoconstruir, a EcoNordeste, algumas premiações do setor da construção.
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E aí a gente foi crescendo. Tanto que quando a gente criou a marca Construtop, qualquer uma das nossas cinco marcas não era nem a quinquagésima marca mais conhecida, o recall era pequeno.
Mas quando a gente unificou, trabalhou com agência de propaganda, dois anos depois, saímos no Anuário do Ceará, na categoria varejo, como a terceira marca mais lembrada, atrás de Normatel e TendiTudo.
No ano seguinte a gente já passou para o segundo lugar e, no outro, para o primeiro. E depois a gente ficou em primeiro durante vários anos.
OP - Como é a divisão da Construtop? Seus sócios também têm outros negócios?
Carlito - Os meus sócios atuam em outros segmentos, além do comércio de material de construção, assim como eu. E são empresários bem sucedidos em outras áreas e nós somos sócios igualitariamente, 20% para cada um, mesmo eu sendo fundador, mas nós temos partes iguais e eu acabo sendo aquele representante do grupo quando vamos nos pronunciar.
Estrategicamente falando, sou o cara que às vezes tem boas ideias, às vezes colabora e a gente trabalha dessa maneira, com gestão profissional. Hoje nós operamos no negócio mais estrategicamente e o negócio Construtop vem evoluindo a cada dia.
OP - O que uma loja licenciada difere de uma franquia? Por que começaram a adotar esse modelo de negócio?
Carlito - O modelo de franquia geralmente é mais engessado. A gente lembra sempre do McDonald's. Todo no manual. Já tem empresas que operam no modelo de licenciamento que vivem no nosso mercado. Como empresa concessionária de automóvel são empresas licenciadas.
Ela licencia a marca Volkswagen, por exemplo. Mas você tem mais de um operador aqui no mercado que tem a marca Volkswagen. Tem a marca, tem algumas normas, mas têm flexibilidade na gestão.
Os postos de combustíveis são outros exemplos. Ele licencia a marca, vai usar a marca Petrobras, Shell, vai comprar o combustível, mas a gestão não é engessada. A franquia tem inclusive a ABF, Associação Brasileira de Franquias, é mais rígida.
E no nosso comércio de material de construção, a gente notou que era mais interessante o licenciamento, porque o investimento de uma loja de material de construção é bem maior do que, por exemplo, um investimento na área de fast foods.
Hoje para montar uma loja Construtop você vai investir pelo menos R$ 500 mil. Então você tem um investimento considerável, para adquirir o primeiro enxoval, a estrutura etc. E aí a gente tem que dar uma certa flexibilidade para ele.
Mas é claro que ele tem que usar a nossa marca, ele tem que usar o nosso plano de mídia, ele vai comprar com a gente automaticamente, porque ele é um e a gente compra pelo menos 10, 15, 20 vezes melhor do que ele.
E ganha no preço de compra, que melhora a margem de lucro dele. Ele participa pela troca de experiências, porque uma coisa é você entrar num segmento que você não conhece nada, então você vai comprar de acordo com o que o fornecedor quer lhe fornecer.
É diferente da gente pegar e dizer: sua loja vai ser em tal região, pelo estudo de mercado que nós temos, os produtos que vão vender aqui vão ser esses. E não precisa comprar em grande quantidade para ter o preço que nós temos, entra no nosso pacote de compra.
Mesmo comprando 10, tu vai entrar num grupo que compra 1000 ou compra 100.
Então, tu já entra com a condição de preço.
OP - Quando vocês começaram o licenciamento de marca?
Carlito - Desde 2012. A gente não ampliou muito, porque temos plano também de crescer fora do estado do Ceará, não só nele, mas fora também. Aí teve um momento que um grupo econômico, um grupo de investimento quis comprar a Construtop, mas não concordamos com a proposta que veio.
Acredito que negócio a gente não tem pra gente, é para o mercado.
OP - E para quem o licenciamento é fornecido, quais são os critérios?
Carlito - O licenciamento é fornecido tanto para quem já tem uma loja montada ou para quem quer migrar a bandeira. O comércio de material de construção tem passado por muitas transformações e o que acontece é que o mercado ainda tem muito que crescer.
Hoje nós temos 150 mil lojas de material de construção no Brasil e nós faturamos juntos mais de R$ 220, R$ 250 bilhões por ano. Só que desse mercado de 150 mil lojas, as maiores lojas de material de construção do Brasil, juntas, só correspondem a 9% desse faturamento geral.
Então existe muito mercado para crescer também. Ou seja, espaço para você crescer dentro desse mercado. Então, melhorar o seu processo de negociação é um passo para você se desenvolver. Se você melhorar a sua visão de mercado é outro passo.
Assim como as técnicas de administrar, um marketing forte, uma marca forte, isso lhe possibilita ganhos super interessantes.
OP - As lojas no interior são todas licenciadas?
Carlito - A loja de Quixadá é nossa, é uma loja referência na região, e as outras são licenciadas. O nosso objetivo é ter cada vez mais lojas licenciadas.
OP - E vocês foram pro interior justamente porque viram essa esse crescimento de mercado lá, algo que talvez algumas lojas daqui não atendessem?
Carlito - Na verdade, nós fomos procurados por esses empresários. Fechar o primeiro contrato com licenciado é mais fácil, porque se você for bom de conversa, você vai. Mas o difícil é você fechar o segundo (de renovação), porque o segundo é a realidade.
É matemática. Já se vê se deu certo. Se cresci, não cresci, se valeu pena, se não valeu. Ninguém deixou de ser licenciado. Todo mundo que entrou gostou de ser licenciado.
OP - Vocês viram então que hoje em dia vale muito mais a pena vocês terem os parceiros licenciados do que as lojas próprias?
Carlito - Sim. É melhor você operar os negócios.
OP - Hoje, como funcionam as operações da Construtop?
Carlito - A nossa operação é mais com profissionais de mercado. A minha esposa faz a parte financeira dos nossos negócios, incluindo a Construtop, mas não atua exclusivamente nela. A Construtop é uma empresa de licenciamento de marca, uma espécie de franquia.
A gente acaba abrindo possibilidade de empresários que têm interesse de entrar nesse segmento, entrar com mais força.
OP - E quais são os planos de expansão?
Carlito - Até o final do próximo ano a gente quer ultrapassar a casa das 20 lojas e o nosso objetivo é ser o número um de faturamento do estado do Ceará.
E aí depois a gente vai entrar no plano que está guardado, que é ir para fora do Estado, mas ainda tem muito mercado no Ceará.
OP - Mas vocês querem Nordeste?
Carlito - É Nordeste. O objetivo é Nordeste. Para você ter uma noção, hoje o faturamento do setor da do comércio material de construção no Ceará vai em torno de R$ 6 a 6,3 bilhões. Quando você tem hoje o nosso faturamento um pouco acima de 100 (milhões de reais), é muito pouco em relação a esse número.
A maior empresa daqui deve faturar na faixa de uns R$ 250 milhões, mas R$ 250 milhões para R$ 6 bilhões, é 24 vezes menor do que o faturamento geral. É representativo, mas o comércio de material de construção é composto na sua maioria por lojas micro, pequenas e médias empresas.
Então é um mercado que tem muita condição de você crescer. O mercado mais difícil é aquele mercado que já está consolidado. No setor supermercadista, por exemplo, nós temos hoje uma concentração muito grande. O Ceará é uma exceção.
OP - O senhor tem filhos?
Carlito - Temos. Temos dois filhos. Eu sou casado há 37 anos, renovaria por mais 37, mas não sei se ela ia querer! (risos). Mas estou satisfeito. Ela é uma das pessoas referência em termos de inteligência, de vida. Fantástica.
O Átila Lira tem 38 anos, é administrador de empresas. trabalha em outros negócios. Não trabalha na Construtop, passou um período como gestor e saiu para tocar os seus próprios negócios. E apresenta um programa da televisão. A Raíssa Lira é advogada na área empresarial e nos dá suporte na parte jurídica dos nossos negócios, tem 29 anos.
OP - Nenhum filho seu trabalha diretamente na Construtop. Isso é uma questão para o senhor?
Carlito - Não. Quem trabalha comigo na Construtop é a Marilene, minha esposa. O meu filho Átila trabalhou um período, mas ele tem os seus próprios negócios. A Raíssa também sempre enveredou para a área jurídica. Então isso não nos preocupa.
A Construtop tem uma gestão profissional e nós, os cinco sócios, a gente opera de uma maneira também estratégica. Temos outros negócios para administrar, então a gente não se concentra 100% no comércio de material de construção, a gente trabalha com outras atividades. Isso aí pode ter o seu lado positivo, negativo…
A gente encara como positivo, porque na verdade a gente está abrindo também oportunidade para outros valores, outros profissionais tocarem o negócio em sintonia com a gente em harmonia e também aparecerem para o mercado.
OP - Quais são os planos de sucessão da empresa?
Carlito - Nós já fizemos algumas consultorias com a Gomes de Matos, ela já trabalhou pro grupo e para algumas unidades, mas nós não fizemos ainda o plano de sucessão. Ocorreu uma sucessão agora recente, uma sócia-fundadora, a dona Fátima (Gadelha), estava com a gente desde o início e faleceu no ano passado, e aí o filho dela assumiu o lugar dela.
Mas a gente não tem esse pensamento ainda, cada um tem outros negócios, e não somos operacionais dentro do processo.
OP - Em mais de duas décadas atuando com a Construtop, o que mudou no mercado e no jeito de construir do cliente?
Carlito - Eu acho que a gente tem uma contribuição interessante para o comércio de material de construção, porque quando a gente montou a Construtop, as lojas de material de construção, principalmente de bairro, eram geralmente com aquele balcão, aquela bagunça.
Então, além da mudança da marca, a gente fez com que na região em que a gente estava, a gente acabava influenciando os lojistas que operavam naquele entorno. Aí a Construtop começou a informatizar, layoutizar as lojas, deu mais um misto de auto serviço com o atendimento técnico.
E isso foi fazendo com que a concorrência também fosse, em determinado momento, melhorando. Ao mesmo tempo, a gente teve também a questão de treinamentos e de lançamento de produtos. A nossa capilaridade nos permitiu fazer ótimas parcerias.
A indústria, quando ela vendia pra gente, não tínhamos a posição que temos hoje, de quinto maior faturamento do comércio. Mas a indústria via que a gente trabalhava, tinha perspectiva, trabalhava bem.
Então, se colocasse um preço interessante, a gente poderia vender os produtos e fortalecer a marca. Tinha marca, por exemplo, que nem era líder de mercado, mas entrava na Construtop para ela começar a crescer.
Entrava como lojinha de bairro para depois entrar nos home centers. A gente foi ‘escada’ para muitas indústrias que operaram no mercado e queriam crescer e ganhar capilaridade.
OP - Qual o legado que a Construtop deixa para o mercado cearense?
Carlito - A Construtop deixa um legado que eu considero muito interessante. Por ela ser criada através de lojas de bairro, a gente paulatinamente foi contribuindo para o desenvolvimento do mercado da construção na vizinhança.
Muitas lojas de material de construção passaram por esse processo de evolução, layoutização, organização, mix de produtos, qualidade no atendimento, informatização da empresa. Então essas são contribuições que ao longo do tempo e da história a gente vai percebendo esse avanço.
Ao mesmo tempo, a gente deu uma contribuição para o crescimento também do setor. Através da Construtop, eu me tornei também uma referência no mercado, uma referência como liderança.
É tanto que quando foi para assumir a presidência da Associação dos Comerciantes de Materiais de Construção, eu não fui atrás dessa oportunidade. Na verdade, o mercado me viu através da cadeia fornecedora e disse: "Olha, tem um cara ali no mercado que ele tem uma característica de liderança”.
E acabaram me convidando e a gente, dessa maneira, passou a contribuir não só com a Construtop, mas com todo o mercado do Ceará, do Nordeste e também do Brasil.
OP - E o que representa para o senhor ser parte da construção de lares?
Carlito - Trabalhar no comércio de material de construção é uma dádiva. Porque além de trabalhar junto ao interesse das famílias, a célula macro da sociedade, a gente pode contribuir com a aquisição, a melhoria da casa própria...
Isso é um momento que engrandece qualquer ser humano, é quando você melhora a autoestima. Todos nós, a gente quer ter uma roupa nova, um carro novo, mas uma casa, o lar é fundamental.
Haja vista que quando a gente passa por momentos como o que passamos na pandemia, a gente notou o quanto a casa é importante, o quanto a família é importante, o quanto o lar é importante.
E foi um dos momentos que o setor de material de construção mais cresceu no Brasil, porque as famílias estavam vivenciando as suas residências. E depois eles começaram já trabalhar, a convidar os amigos para vir pra suas casas, fazer melhorias.
Então, a casa é um dos bens mais essenciais da sociedade e a gente fica muito feliz pela Construtop dar essa contribuição para a população do Ceará.

Esta entrevista exclusiva com Carlito Lira para O POVO faz parte da sexta temporada do projeto Legados.
São cinco entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.
Uma série de entrevistas especiais com grandes empresários que deixam legados para a sociedade e a economia do Ceará