18º Batalhão: saiba como é por dentro o principal quartel dos PMs amotinados

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Publicado 18:22 | fev. 21, 2020 Tipo Notícia Por Redação O POVO

No 18º BPM, atualmente se encontram várias crianças, filhos de policiais. Um pula-pula para o lazer dos pequenos foi levado ao batalhão. (Foto: Thais Mesquita) — Foto: Thais Mesquita No 18º BPM, atualmente se encontram várias crianças, filhos de policiais. Um pula-pula para o lazer dos pequenos foi levado ao batalhão.

O 18º Batalhão da Polícia Militar do Ceará, na rua Anário Braga, no bairro Antônio Bezerra, em Fortaleza é o centro de tomada de decisões dos PMs amotinados. Foi lá onde começou a paralisação, no fim da tarde de terça-feira, 18. Desde então, o local permanece sob controle do grupo rebelado.

O acesso é tortuoso. Cerca de 150 viaturas com pneus furados dificultam a travessia. Homens com balaclava - capuz que cobre todo o rosto - tentam identificar quem entra e sai para impedir representantes do Governo do Estado.

Ao abordar os homens na recepção improvisada na rua, a reportagem do O POVO pediu para ser levada ao líder do movimento que estivesse ali. Todos da roda com rostos cobertos ficaram em silêncio e apenas o que estava com o rosto limpo respondeu, levando depois os repórteres ao Cabo Sabino, ex-deputado federal. Sentado em uma cadeira de madeira e sozinho, o ex-parlamentar quase não desgrudava o celular do ouvido. Quando o fazia, os dedos frenéticos não paravam de digitar.

No centro do batalhão há um jardim. Plantas com flores vermelhas e um gramado bem cuidado serve de diversão para os filhos dos policiais. O preferido deles é o pula-pula no meio do verde. No canto, a observar crianças brincando, um garoto, também de pouca idade, mas de estrutura corporal já desenvolvida, usava balaclava. Ao lado de homens alguns tantos anos mais velhos.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-02-2020: 18º Batalhão da Policia Militar localizado na rua Anário Braga, no Bairro Antonio Bezerra. Policiais mostram como ta a situação dentro do batalhao (Foto: Thais Mesquita/O POVO) (Foto: Thais Mesquita)

Até as 11 horas desta sexta-feira, 21, segundo Sabino, todos já haviam se alimentado pelo menos uma vez. "Aqui há dois fogões que nunca param." Para armazenar os alimentos, duas grandes mesas foram montadas de frente para a entrada do Batalhão, do lado oposto. “Aqui todos podem comer o que quiser. É só chegar e tirar”. Entre as opções disponíveis no cardápio estão bolachas, biscoitos, manteiga, pães, frutas, cafés, sucos e refrigerantes. Próximo dali, um freezer guarda a água.

O preparo do almoço estava sob a responsabilidade de uma mulher e um senhor. Ela vestia camisa preta com o rosto do presidente Jair Bolsonaro e pediu à equipe para entrar depois. "Acabamos de limpar. Só daqui a 15 minutinhos", explicou.

Em outra sala estão mantimentos, como arroz, feijão, farinha, macarrão, massa para cuscuz. O material é doado por familiares, vizinhos e guardas municipais. No mesmo local descansavam no fim da manhã o deputado estadual Soldado Noelio (Pros), a mulher dele e a filha.

“O que eu mais sinto falta é de dormir com minha filha na minha cama. Ela dorme com a gente”, comenta Noelio enquanto brinca com a bebê. O deputado reclama do Governo: “Nunca pensei que fosse tão orgulhoso.” A observação vem em decorrência de o governo não ter chamado os protestantes para negociar desde deflagrada a paralisação.

“Esse celular não para. É gente do Interior, de Fortaleza. Deputados federais, estaduais. Policiais de várias patentes. Imprensa de todo o País”, diz Cabo Sabino com o rosto confuso, barba por fazer e cabelo desajustado. A todo instante, um ou outro homem encapuzado chega próximo, seja para passar um celular dizendo aos sussurros algum recado, pedindo autorização para algo ou dando repasse sobre outra unidade policial.

Os policiais militares, conforme Sabino, se revezam no local. O maior fluxo é do fim do dia para o começo da noite. “Não temos estrutura para acolher toda a tropa grevista. Eles vêm porque querem. Ninguém está obrigando a nada. É tudo voluntário”, comenta o cabo enquanto aponta para o grupo de homens que ali assistia a conversa e um assessor grava para alguma rede social.

Sem controle, lista ou precisão, Sabino diz que a adesão no Interior é maior que na Capital. Ele explica que os destacamentos, bases da Polícia em municípios com menos de 55 mil habitantes, estão agregados em batalhões nas cidades maiores.

Além de Fortaleza, segundo o líder, as cidades que servem como apoio aos policiais parados são: Sobral, Itapipoca, Canindé, Tianguá, Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Iguatu, Quixadá e Limoeiro do Norte. “São 150 carros parados só aqui em frente. Mais de 200 em toda a Fortaleza. No Estado, são mais de 300”, contabiliza.

Principais rostos desde as primeiras manifestações dos policiais, as companheiras dos policiais não circulam tanto, são discretas, falam baixo, mas têm sua representatividade na manifestação. Elas são a voz e o rosto de quem pode se mostrar por direito. Uma delas na entrada da reportagem no batalhão perdeu-se nos dias e perguntou quando seria o Carnaval. Outra dizia: "Estamos aqui por uma indignação que não é isolada. É coletiva."

Policiais militares do Ceará iniciaram paralisação na tarde de terça-feira, 18 de fevereiro, em protesto contra plano de reestruturação salarial de policiais e bombeiros militares do Ceará. Confira a cobertura das manifestações dos policiais, os atos de violência e a repercussão política do caso.

Acompanhe a cobertura do protesto dos policiais

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